O ano era
1999. Estávamos quase na virada do século. Minha irmã começou a cuidar de um
menininho com os cabelos lisos, cor de ouro, muito meigo e comportado. Cuidava
enquanto a Vani, mãe dele, trabalhava. O Dudu tinha 1 aninho. Logo toda a minha
família se apegou a ele. Passados apenas alguns meses minha irmã arranjou um emprego
em uma loja, então minha mãe passou a cuidar dele.
À medida
que o Dudu crescia nós passávamos mais tempo juntos. A gente tomava batida de fruta
em cima das árvores, brincava com uma velha máquina de escrever, eu puxava ele
numa caixa de papelão, subia no pé de manga-rosa, na casinha da árvore, e muitas
outras coisas.
Só de
brincadeira eu copiava frases de livros na máquina de escrever e ensinava o
Dudu a fazer o mesmo. Um certo dia fiquei muito surpreso quando o Dudu, então
com uns 2 anos, apontou em um livro e falou: "satélite"; quando olhei
tinha uma figura de um satélite artificial orbitando a Terra, fiquei
boquiaberto. Ele sempre foi muitíssimo inteligente e com uma memória sem igual.
Ele lembra de quase todas as brincadeiras que a gente fazia.
Eu inventei
uma brincadeira, que talvez hoje fosse considerado bullying. Eu perguntava pra
ele: “Dudu, e o pescocinho? E ensinei ele a responder: “fininho”. Então eu
perguntava: “e a barriga”, e ele respondia: “cheia de água”. Ele era magrinho e
tinha uma barriguinha... Até hoje nós rimos muito quando lembramos disso.
Eu
desmontava motores e a gente jogava umas chapas de metal em formato de E nas
bananeiras atrás de casa. O Dudu saia rolando na terra quando o carrinho de
papelão virava. Nessas horas ele ficava bravo, e dizia: “assim não, vou falar
pra minha mãe!”.
Foram três
anos de muitas alegrias, diversão, aprendizado e ali começou uma amizade pra
vida toda. Depois de um tempo minha mãe deixou de cuidar dele e de vez em quando
a Vani trazia ele lá em casa. Ele crescia cada vem mais rápido.
Um tempo
depois perdemos o contato, pois primeiro mudei de cidade para estudar depois
para trabalhar, e o Dudu também seguiu a vida dele. Acho que a última vez que o vi ele tinha uns dez anos.
Então, no
dia 22/05/2016, as 18:56 o Dudu me adicionou no FB e mandou uma mensagem: “quanto
tempo Fernando”; “saudade de tomar batida lá no pé de árvore atrás do
restaurante”; “sou o Dudu”; “lembro de muita coisa quando era menor, tipo pescocinho
fininho e barriga cheia de água kkkk”. Eu respondi: “meu Deus, não acredito que
é você!”; “nunca ia te conhecer, tu ta muito grande hauhauhau”.
No dia
10/09/2016 fui passar uns dia em Capanema, então marcamos para tomar um tereré
na praça e conversar. Eu lembro muito bem desse momento. Enquanto eu fazia o
suco de limão o Dudu apareceu lá em casa. Foi uma alegria pra todo mundo. Lembro
também da felicidade no rosto dos meus pais ao verem ele. Foi uma surpresa ver
que ele estava maior do que todos nós... Mas foi como se a gente nunca tivesse perdido
o contato. O Dudu continuava aquele menino inteligente, simpático, alegre e com
uma memória incrível. É sempre muito bom estar com ele.
Daquele
dia em diante toda vez que visito meus pais a gente combina para fazer alguma
coisa, tomar tereré na praça, no Titus, no Ginásio, pela cidade toda, fazer uma
fogueira, ver a lua, conversar e principalmente, viver!
Um tempo
depois eu estava em uma fase ruim, muito estressado por causa do trabalho,
então fiquei em casa (em Capanema) por 4 meses. Foi muito bom ter o Dudu por
perto, pois os verdadeiros amigos, mesmo sem querer, ajudam um ao outro. Foi um
período muito bom!
Tenho
certeza que nunca mais perderemos o contato. Temos muitos tererés para tomar,
muitas coisas para lembrar e para viver.
Dudu, que
sorte eu tenho de ter te conhecido com 1 aninho e que bom que você me mandou
aquela mensagem em 22/05/2016. Sou eternamente grato por isso.
18/02/2019